Como parte da cobertura do ArchDaily Brasil na Bienal de Veneza 2016, apresentamos uma série de artigos escritos pelos curadores das exposições e instalações à mostra no evento.
Pessoas vestindo uma enorme cabeça escultural de um unicórnio tornou-se uma das imagens mais surreais a serem vistas na Bienal de Veneza 2016.
Parte da exposição Prospect North no Pavilhão escocês, produzida em conjunto por Lateral North, Dualchas Architects e Soluis, um estúdio de design e visualização de Glasgow, as cabeças de unicórnio, alce e urso polar permitem que você seja imerso numa realidade virtual do mundo do passado, presente e futuro das Highlands.
As cabeças trazem à vida 3 cenas por meio de novas tecnologias, mas também olham para o futuro no relacionamento da Escócia com o Norte, e em particular à região emergente do Ártico. Tom Smith, da Lateral North disse, "Prospect North explora projetos em um micro nível por toda a Escócia, mas também o que a Escócia se parecerá no futuro, de um ponto de vista macro. Com a mudança climática causando alterações em todo o mundo, mas em particular no norte, estamos perguntando como a Escócia pode contribuir para isso de uma maneira positiva e sustentável, e como a arquitetura pode desempenhar um papel fundamental neste processo. As cabeças proporcionam uma oportunidade de olhar para o nosso passado escocês, presente nórdico e o futuro ártico em um espaço 360 graus".
Mas, além de um pouco de diversão, Neil Stephen do Dualchas Architects diz que também há um lado sério.
"Neste elemento olhamos para a forma como as comunidades nas Highlands foram destruídas, juntamente com grande parte de sua cultura gaélica. Nós, então, analisamos como a arquitetura contemporânea está tentando se conectar com o passado, mas percebendo que é, em grande parte, um privilégio dos ricos, enquanto os jovens continuam partindo, expulsos por conta dos valores elevados da terra. Nós, então, imaginamos um futuro diferente, onde as oportunidades econômicas ao norte podem repovoar as Highlands".
A exibição também inclui o trabalho artesanal de um mapa da Escócia e do Ártico tridimensional em madeira com espetaculares efeitos visuais 3D e filmes que são acionados quando os mapas são visualizados através de telefones celulares e tablets. Entretanto, como Graham Hogg explica, a tecnologia está lá para ajudar os espectadores a se envolverem com as questões.
"A exposição olha para como as comunidades na Escócia estão trabalhando com arquitetos para tentar criar um futuro seguro, mas que muitas vezes estão lutando contra as probabilidades. Eles estão lutando contra a força gravitacional do sul e as cidades, o que afasta os jovens e sua energia. Isso requer os esforços heroicos dos indivíduos para tentar manter essas comunidades vivas.
"Estamos pedindo como isso deveria ser e como vamos mudar isso. Viramos o mapa 180 graus e olhamos para o norte, para os países nórdicos e o Ártico, onde há potencialmente grandes oportunidades para a Escócia. Somos, então, "o sul" dos nossos vizinhos do norte, que estão em uma ótima posição estratégica, especialmente se novas rotas de navegação forem abertas através da Passagem Noroeste."
A exposição destaca que grande parte da Escócia é sub-povoada, mas como uma industrialização do norte através de iniciativas renováveis arrojadas, conectividade de alta velocidade e repensando rotas comerciais poderia transformar os resultados. Sugere que o despovoamento das Highlands não era inevitável, mas o declínio cultural e econômico contínuo é o futuro, a não ser que decidimos a efetuar uma mudança.
Esta ideia é complementada por um livro que acompanha a exposição. O livro pediu a escritores de todo o país para contar histórias e poemas sobre a Escócia, quando o mapa está virado e a bússola realinhada.
E, de acordo com Fergus Bruce de Soluis, esse contraste da tecnologia de ponta com o artesanato tradicional era importante para os curadores.
"A mistura de tecnologia e escultura nunca foi vista anteriormente na Bienal, e ofereceu a Soluis a chance de forçar os limites no uso de uma peça complexa e única de arte como um gatilho para a realidade aumentada. Estas tecnologias estão atualmente invadindo a arquitetura e o design, de modo que o momento não poderia ser mais apropriado.
"Sempre haverá lugar para o artesanal e o belo - e esperamos que tanto a escultura, como a linda escrita lembre-nos que há muitas maneiras de ser criativo e fazer do mundo um lugar melhor."